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terça-feira, 19 de novembro de 2013

AMOR-te

Corra! Não perca tempo!
Aqui está um peito cheio de amor.
Da melhor qualidade.
Fresquinho que nem pão da hora.
Oportunidade imperdível!
Evite a concorrência!
Garanta já o seu!
Queima de estoque!
Está acabando!
Não deixe-o aqui!

Pronto para amar,
Pronto para sofrer,
Não deixe-o secar.
Não deixe-o esfriar.
Não deixe.

Não me deixe...

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Febre Juvenil




Meu coração se partiu num instante,
Quando eu tinha vinte anos
Quando rascunhei os planos
Que ficaram adiante.

E no pranto dei conforto
A quem me feriu com dor,
Quem me ensinou amor,
Deixou-me morto.

Logo senti culpa
De não ter no rosto
As marcas nem o gosto
Que a menoridade oculta

Assim, sem permitir a angústia
Com vinte anos
Farei mais planos
Pois amor se cura com homeopatia.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Remédio Amargo




Deixe-me queimar na chama
Ferir na lâmina
Cair no poço
Engolir o seco
Quebrar a cara
Furar no prego
Chutar o balde
Morder a língua
Derramar o leite
Afundar na areia
Atolar na lama
Passar batido
Sofrer sem motivo
Chorar lágrimas secas
Morrer na praia
Cortar os pulsos
Andar com meus passos
Pensar com meu ímpeto
E sonhar com meu travesseiro.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Reflexo no fundo do lago turvo


Escrevo porque morro
Pereço,  findo
E por eus percorro.

No traço do estilete
Cada signo em meu peito
Escorre o sangue da gilete

E na agonia poética
Da sinfonia de cordas quebradas
Da melancolia fonética

O poeta se mutila
Em pedaços semânticos
Perde-se, exila

O cheiro do tempo
Guardado na gaveta
Perdido como documento

Dos tantos que sou
E do pouco que eu
Já se acabou

Na busca incessante
Do si nesse roteiro
Só acho personagens na estante

Dos livros em que vivo
Morrendo por ser
O mero atrativo.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Fosco cristalino


 A oportunidade é uma questão de visão, mesmo sentando num ônibus e cansado, quando me deparei com uma imagem tão pura e tão desafiadora resolvi escrever. Poema com cara de crônica. É como eu.

Aqueles olhos vazios
Sedentos de toda parte
Incalculáveis desvios
Seguros em baluarte

Aquelas pupilas arregaladas
Que consomem sem filtro o que passa
Da serena barricada
Não procura, involuntariamente caça.

Mal sustenta a vista
Pouco importa a paisagem
De vez, empina a crista
E aprecia a real miragem

Que será visto por essas pequeninas jabuticabas?
Terão por si sinestesia?
De ora, em tremeliques se gaba
De sua atual anacronia.

Queira Deus que permaneça ceguinha
Que enxergue não mais que a alma
Que não use óculos nem lentes
E permaneça no aconchego de sua fralda.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Maria




Mais uma Maria que se foi
Mas não era a Maria louca , nem rica
Não era Maria Madalena
Era Maria Mariquita.

Maria do batuque e capoeira
Dos animais e das crianças
Dos doces de leite e boa maneira
Das lambidas e das lambanças.

Do Carnaval na Espanha
Das sacolas dobradinhas
De quem perde e de quem ganha
Cães, gatos e galinhas.

Dos causos e histórias
No tempo da meninada
Das linhas, panos e costuras
- Faca na mão direita! Ensinava.

Da cabeça firme
Do corpo falho
Do espírito livre
E da história do alho.

Mas há uma pergunta que me inquieta:
Quantos setes de setembro são precisos
Para criar uma Mariquita?

Quanto tempo mexendo o taxo?
Assistindo à Copa
Dando comida aos gatos?

Se pensar bem, essa idéia não será esquisita.
É mais que justo o sete de setembro
Também ser dia de Mariquita.

E nesta tarde, mais uma estrela
Juntou-se ao anil da bandeira
E de lá, na cadeira que balança
Deu um nó em sua andança
De mãe, tia e guerreira
De Dona Mariquita, a brasileira.

R.I.P