Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade
Tenho mil mãos
E perdi meus sentimentos no mundo
Porém cercado de gente
Meus sonhos sucumbem
A alma regride
Num turbilhão de dor
Toca na vitrola
Uma sinfonia inacabada
Intensa e amargurada
Como meu peito que geme
No crepúsculo do tempo
Minhas palavras cortam
Numa brutal voracidade
As lembranças que guardei
Quando ainda havia verdade
Espero que essa chuva
Leve com sua enxurrada
As lágrimas que nunca chorarei
Pois o maior dos amargos é meu peito
Que só escreve...
Um amor que nunca terei.